quinta-feira, 31 de julho de 2008

Immanuel Kant

Immanuel Kant
Immanuel Kant ou Emanuel Kant (Königsberg, 22 de Abril de 1724Königsberg, 12 de Fevereiro de 1804) foi um filósofo alemão, geralmente considerado como o último grande filósofo dos princípios da era moderna, indiscutivelmente um dos seus pensadores mais influentes.
Alguns autores consideram que Kant operou, na
epistemologia, uma síntese entre o Racionalismo continental (de René Descartes e Gottfried Leibniz, onde impera a forma de raciocínio dedutivo), e a tradição empírica inglesa (de David Hume, John Locke, ou George Berkeley, que valoriza a indução).
Kant é famoso sobretudo pela sua concepção conhecida como
transcendentalismo: todos nós trazemos formas e conceitos a priori (aqueles que não vêm da experiência) para a experiência concreta do mundo, os quais seriam de outra forma impossíveis de determinar. A filosofia da natureza e da natureza humana de Kant é historicamente uma das mais determinantes fontes do relativismo conceptual que dominou a vida intelectual do século XX. No entanto, é muito provável que Kant rejeitasse o relativismo nas suas formas contemporâneas, como por exemplo o Pós-modernismo.
Kant é também conhecido pela sua filosofia
moral e pela sua proposta, a primeira moderna, de uma teoria da formação do sistema solar, conhecida como a hipótese Kant-Laplace.
Vida

Kant nasceu, viveu e morreu em Königsberg (atual Kaliningrado), na altura pertencente à Prússia. Foi o quarto dos nove filhos de Johann Georg Kant, um artesão fabricante de correias (componente das carroças de então) e de sua mulher Regina. Nascido numa família protestante, teve uma educação austera numa escola pietista, que frequentou graças à intervenção de um pastor.
Passou grande parte da juventude como estudante, sólido mas não espetacular, preferindo o bilhar ao estudo. Tinha a convicção curiosa de que uma pessoa não podia ter uma direcção firme na vida enquanto não atingisse os 39 anos. Com essa idade, era apenas um
metafísico menor numa universidade prussiana, mas foi então que uma breve crise existencial o assomou. Pode argumentar-se que teve influência na sua posterior direcção.
Kant foi um respeitado e competente professor universitário durante quase toda a sua vida, mas nada do que fez antes dos 50 anos lhe garantiria qualquer reputação histórica. Viveu uma vida extremamente regulada: o passeio que fazia às 15:30 todas as tardes era tão pontual que as mulheres domésticas das redondezas podiam acertar os relógios por ele.
Kant nunca deixou a Prússia e raramente saiu da sua cidade natal. Apesar da reputação que ganhou, era considerado uma pessoa muito sociável: recebia convidados para jantar com regularidade, insistindo que a companhia era boa para a sua constituição física.
Por volta de
1770, com 46 anos, Kant leu a obra do filósofo escocês David Hume. Hume é por muitos considerados um empirista ou um cético, desprezando toda a metafísica, enquanto outros o consideram um naturalista. A sua tese mais famosa é que nada na nossa experiência justifica a existência de "poderes causais" inerentes nas coisas. Por exemplo, quando uma bola de bilhar se choca com outra, a segunda "deve" mover-se. Obviamente, as coisas sempre aconteceram assim, e por isso tendemos a pensar, "pelo costume e pelo hábito" que assim seja. Só que não há motivos racionais para isso.
Kant sentiu-se profundamente perturbado. Achava o argumento de
Hume irrefutável, mas as suas conclusões inaceitáveis. Durante 10 anos não publicou nada e, então, em 1781 publicou o massivo "Crítica da Razão Pura", um dos livros mais influentes da moderna filosofia.
Neste livro, ele desenvolveu a sua noção de um argumento transcendental para mostrar que, em suma, apesar de não podermos saber necessariamente verdades sobre o mundo "como ele é em si", estamos forçados a percepcionar e a pensar acerca do mundo de certas formas: podemos saber com certeza um grande número de coisas sobre "o mundo como ele nos aparece". Por exemplo, que cada evento estará causalmente conectado com outros, que aparições no espaço e no tempo obedecem a leis da
geometria, da aritmética, etc.
Nos cerca de vinte anos seguintes, até à sua morte em 1804, a produção de Kant foi incessante. O seu edifício da filosofia crítica foi completado com a
Crítica da Razão Prática, que lidava com a moralidade de forma similar ao modo como a primeira crítica lidava com o conhecimento; e a Crítica do Julgamento, que lidava com os vários usos dos nossos poderes mentais, que não conferem conhecimento factual e nem nos obrigam a agir: o julgamento estético (do Belo e Sublime) e julgamento teleológico (Construção de Coisas Como Tendo "Fins"). Como Kant os entendeu, o julgamento estético e teleológico conectam os nossos julgamentos morais e empíricos um ao outro, unificando o seu sistema.
Uma de suas obras, em particular, atinge hoje em dia grande destaque entre os estudiosos da filosofia moral. A Fundamentação da Metafísica dos Costumes é considerada por muitos filósofos a mais importante obra já escrita sobre a moral. É nesta obra que o filósofo delimita as funções da ação moralmente fundamentada e apresenta conceitos como o Imperativo Categórico e a Boa Vontade.
Aparte isto, Kant escreveu alguns ensaios medianamente populares sobre história, política e a aplicação da filosofia à vida. Quando morreu, estava a trabalhar numa projetada "quarta crítica", por ter chegado à conclusão de que seu sistema estava incompleto; este manuscrito foi então publicado como Opus Postumum.

Juízo Estético de Kant

O juízo estético é abordado no livro Crítíca da Faculdade do Juízo. De acordo com Kant para se ter uma investigação crítica a respeito do belo, devemos estar orientados pelo poder de julgar. E a indagação básica que move essa investigação crítica a respeito do belo é: existe algum valor universal que conceitue o belo e que reivindique que outras pessoas, a partir da minha apreciação de uma forma bela da natureza ou da arte, confirmem essa posição? Ou então somos obrigados a admitir que todo objeto que julgamos como sendo belo é uma valoração subjetiva? O poder de julgar, pertencendo a todo sujeito, é universal e congraça o julgamento estético, especulativo e prático. Portanto a investigação crítica que Kant se refere diz respeito às possibilidades e limitações das faculdades subjetivas que agem sob princípios formulados e que pertencem à essência do pensamento.
Como podemos desnudar o fenômeno que explica o nosso gosto? Se fizermos uma experiência com vários indivíduos e o defrontarmos com um objeto de arte, observaremos que as impressões causadas serão as mais diversas. Então chegaremos à conclusão de que a observação atenta e valorativa daquele objeto, somada as diferentes opiniões que foram apresentadas pelos indivíduos, nos dá respaldo para afirmar que o gosto tem que ser discutido. Para Kant apenas sobre gosto se discute, ao passo que, representa uma reivindicação para tornar universal um juízo subjetivo.
A universalidade do juízo estético é detectada por envolver um exercício persuasivo de convencimento de outro sujeito que aquela determinada forma da natureza ou da arte é bela. E, dessa forma, torna aquele valor universal. Os sujeitos têm em comum um princípio de avaliação moral livre que determina a avaliação estética e, portanto, julga o belo como universal.
O juízo estético está relacionado ao prazer ou desprazer que o objeto analisado nos imprime e, como se refere Kant, o belo “é o que agrada universalmente, sem relação com qualquer conceito”. Essa situação fica bem evidente quando visitamos um museu. Digamos que essa experiência fosse realizada no Museu do Louvre, em Paris, com o quadro Monalisa. Se nos colocarmos como observador, perceberemos que os mais diversos comentários serão tecidos a cerca dessa obra tão famosa. Detendo-nos na análise dos comentários favoráveis notaremos que, ratificando Kant, o belo não está arraigado em nenhum conceito. Pois, dos vários indivíduos que vão apreciar a obra de Leonardo da Vinci, encontraremos desde pessoas especializadas em arte até leigos, como eu ou você, que vão empregar cada qual um conceito, de acordo com sua percepção, após a contemplação da Monalisa. Então isso comprova que não existe uma definição exata a cerca do belo, mas sim um sentimento que é universal e necessário.
Feitas as devidas considerações a respeito do tema proposto, apresento-lhes agora dois artigos que irão nos elucidar mais alguns pontos dos juízos estéticos de Kant. O primeiro se intitula – A Fundação da Estética como Dimensão da Mente Humana em Kant – do Doutor Jairo Dias Carvalho do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Uberlândia publicado na Revista de Filosofia. E o segundo tem como título La Estética de Kant en España – de autoria de Francisco Abad, da Revista Lindaraja.
O artigo do Doutor Jairo Dias Carvalho começa enfatizando que Kant reconhece três faculdades do ânimo: a faculdade de conhecer, a faculdade de apetição e o sentimento de prazer e desprazer. Logo após, Carvalho faz uma breve síntese do que são essas faculdades: I – faculdade de conhecer: se refere ao objeto e à unidade de apercepção; II – faculdade de apetição: são as representações consideradas como causa de efetividade desse objeto; III – sentimento de prazer e desprazer: são as representações que se referem ao sujeito e que conservam sua existência nele.
No decorrer do artigo, Carvalho faz alguns apontamentos sobre o sentimento de prazer, sendo que Kant considera que o sentimento está num patamar intermediário entre o desejo e o conhecimento. A respeito do sentimento de prazer, Carvalho coloca que “o prazer é um sentimento e sentir prazer é uma questão de gosto, sendo o gosto uma faculdade de apreciação do prazer. O gosto repousa sobre a capacidade apreciativa de ser afetado por prazer ou desprazer”. Destrinchando esta passagem do artigo podemos fazer um exercício da seguinte forma: coloque um objeto na sua frente; depois fique olhando-o e observe-o atentamente, você está avaliando este objeto; este objeto esta lhe causando uma impressão, pois você foi afetado por ele; e, por fim, essa apreciação – conduzida pela faculdade do gosto – lhe gerará um sentimento, que será de satisfação (prazer) ou de descontentamento (desprazer).
Na conclusão do artigo o Doutor Jairo se refere ao sentimento como um estado que afeta a mente através da faculdade de desejar por meio de uma representação. E faz várias considerações com base no livro Crítica da Razão Prática – também de Kant – sobre o respeito, o qual ele considera distinto dos outros sentimentos por pertencer a razão pura, não podendo ser assimilado ao gozo nem ao sofrimento. O respeito esta ligado à representação da lei moral em todo ser racional finito, sem condicionar o prazer ou o desprazer e, portanto, a razão inspira um sentimento de satisfação quando do cumprimento do dever. Através dessa constatação que irá nascer a crítica do gosto, pois vincula a faculdade do ânimo com o sentimento moral. Então, além das faculdades de conhecer e de apetição, se constitui o terceiro termo nas faculdades do ânimo: os juízos estéticos.
De acordo com o artigo de Francisco Abad o sentimento estético é expresso mediante o juízo de gosto. Quando estamos analisando uma obra de arte, sentimentos de agrado ou de desagrado estético são direcionados pelo juízo: gosto ou não gosto, tenho prazer ou não tenho prazer. Este se resume num juízo de satisfação ou insatisfação estética.
Abad coloca que o juízo de gosto é uma faculdade de julgar que produz satisfação e descontentamento. Ou nas palavras do próprio Kant, “gosto é a faculdade de julgar um objeto ou uma representação mediante uma satisfação ou descontentamento, sem interesse algum. O objeto de semelhante satisfação chama-se belo”. Então poderíamos conceituar o juízo de gosto como o “interesse desinteressado”. O agrado e o desagrado estético não possuem interesses além da contemplação da beleza. Todo juízo artístico pertence à satisfação estética, a qual é desinteressada e reside no prazer diante do objeto contemplado.
Outro argumento apresentado no artigo de Abad expõe que de acordo com Kant, o juízo de gosto é determinado pela finalidade subjetiva da representação, sendo que o belo consiste em uma finalidade meramente formal a qual os indivíduos representam subjetivamente. Portanto o agrado ou o desagrado estético é a representação de uma forma pura da finalidade sem fim que acaba por constituir o objeto estético. Sendo o objeto estético a forma pura que gera satisfação ou agrado através da consciência que tomamos deste objeto.
No encerramento do artigo Abad diz que Kant supunha que o juízo estético agrada universalmente, pois ganha contornos de juízo lógico, apesar da subjetividade dos sujeitos que contemplam o objeto. O juízo de gosto é um juízo a priori – independente da experiência e pertencente à essência do pensamento – estabelecendo uma conexão entre a representação e o estado sentimental do sujeito. O juízo de gosto é desinteressado e a contemplação estética é subjetiva em relação ao objeto analisado, podendo agradar ou desagradar o sujeito.

A Paz Perpetua

A paz perpetua, trata que o direito cosmopolitico deve circunscrever-se às condições de uma hospitalidade universal. Dessa forma, Emmanuel Kant traz no terceiro artigo definitivo de um tratado de paz perpetua,o fato de que existe um direito cosmopolitano relacionado com os diferentes modos do conflito dos indivíduos intervirem nas relações com outros indivíduos.A pessoa que está em seu território, no seu domínio, pode repelir o visitante se este interfere em seu domínio. No entanto, caso o visitante mantenha-se pacifico, não seria possível hostiliza-lo. Também, não se trata de um direito que obrigatoriamente o visitante poderia exigir daquele que o tem assim, mas sim, de um direito que persiste em todos os homens, o do direito de apresentar-se na sociedade.
O direito de cada um na superfície terrestre pode ser limitada no sentido da superfície. Já o indivíduo deve tolerar a presença do outro, sem interferir nele, visto que tal direito persiste a toda espécie humana. Então, o direito da posse comunitária da superfície terrestre pertence a todos aqueles que gozam da condição humana, existindo uma tolerância de todos afim de que se alcance uma convivência plena. Veja que o ato de hostilidade está presente no ato do direito de hospitalidade. Mesmo que o espaço seja limitado, os indivíduos devem se comportar pacificamente com o intuito de se alcançar a paz de convívio mútuo. O relacionamento entre as pessoas está na construção dos direitos de cada um, sendo indispensável para a compreensão do direito cosmopolitico de modo a garantir as condições necessárias para termos uma hospitalidade universal.
Por fim, a violação do direito cosmopolitano e o direito público da humanidade criará condições para o favorecimento da paz perpetua, proporcionando a esperança de uma possível aproximação do estado pacífico.

Filosofia de Kant em geral

"Só a crítica pode cortar pela raiz o materialismo, o fatalismo, o ateísmo, a incredulidade dos espíritos fortes, o fanatismo e a superstição, que se podem tornar nocivos a todos e, por último, também o idealismo e o cepticismo, que são sobretudo perigosos para as escolas e dificilmente se propagam no público"
Kant, Crítica da razão pura, B XXXIV
[1].
Apesar de ter adaptado a idéia de uma filosofia crítica, cujo objectivo primário era "criticar" as limitações das nossas capacidades intelectuais, Kant foi um dos grandes construtores de sistemas, levando a cabo a ideia de crítica nos seus estudos da metafísica, ética e estética.
Uma citação famosa - "o céu estrelado por sobre mim e a lei moral dentro de mim" - é um resumo dos seus esforços: ele pretendia explicar, numa teoria sistemática, aquelas duas áreas.
Isaac Newton tinha desenvolvido a teoria da física sob a qual Kant queria edificar a sua filosofia. Esta teoria envolvia a assunção de forças naturais de que os homens não se apercebem, mas que são usadas para explicar o movimento de corpos físicos.
O seu interesse na ciência também o levou a propor em
1755 que o sistema solar fora criado a partir de uma nuvem de gás na qual os objectos se condensaram devido à gravidade. Esta Hipótese Nebular é amplamente reconhecida como a primeira teoria moderna da formação do sistema solar e é precursora das actuais teorias da formação estelar.

Metafísica e epistemologia de Kant

Capa da obra Crítica da Razão Pura, 1781.
O livro mais lido e mais influente de Kant é a
Crítica da Razão Pura (1781). De acordo com o próprio autor, a obra, também conhecida como "primeira crítica", é resultado da sua leitura de Hume e do seu despertar do sono dogmático, a saber: Kant se perguntou como são possíveis juízos sintéticos a priori? Para responder a essa pergunta, Kant escreveu esse livro portentoso, de mais de 800 páginas.
Na primeira crítica, Kant vai mostrar que tempo e espaço são formas fundamentais de percepção (formas da sensibilidade) que existem como ferramentas da mente, mas que só podem ser usadas na experiência.
Tente imaginar alguma coisa que existe fora do tempo e que não tem extensão no espaço. A mente humana não pode produzir tal idéia. Nada pode ser percebido excepto através destas formas, e os limites da
física são os limites da estrutura fundamental da mente. Assim, já vemos que não podemos conhecer fora do espaço e do tempo.
Mas além das formas da sensibilidade, Kant vai nos dizer que há também o entendimento, que seria uma faculdade da
razão. O entendimento nos fornece as categorias com as quais podemos operar as sínteses do diverso da experiência.
Assim, como são possíveis
juízos sintéticos a priori? São possíveis porque há uma faculdade da razão - o entendimento - que nos fornece categorias a priori - como causa e efeito - que nos permitem emitir juízos sobre o mundo.
Contudo, diz Kant, as categorias são próprias do conhecimento da experiência. Elas não podem ser empregadas fora do campo da experiência. Daí porque, na filosofia crítica de Kant, não nos é possível conhecer a coisa em si, ou aquilo que não está no campo
fenomenológico da experiência.
Na perspectiva de Kant, há, por isso, o conhecimento a priori de algumas coisas, uma vez que a mente tem que ter estas categorias, de forma a poder compreender a massa sussurrante de experiência crua, não-interpretada que se apresenta às nossas consciências. Em segundo lugar, ela remove o mundo real (a que Kant chamou o mundo numenal ou
númeno) da arena da percepção humana.
Kant denominou a sua filosofia crítica de "
idealismo transcendental". Apesar da interpretação exacta desta frase ser contenciosa, uma maneira de a compreender é através da comparação de Kant, no segundo prefácio à "Crítica da Razão Pura", da sua filosofia crítica com a revolução copernicana na astronomia.
Até aqui, foi assumido que todo o nosso conhecimento deve conformar-se aos objectos. Mas todas as nossas tentativas de estender o nosso conhecimento de objectos pelo estabelecer de qualquer coisa a priori a seu respeito, por meios de conceitos, acabaram, nesta suposição, por falhar. Temos pois, por tentativas, que ver se temos ou não mais sucesso nas tarefas da
metafísica, se supusermos que os objectos devem corresponder ao nosso conhecimento [Bxvi].
Tal como Copérnico revolucionou a astronomia ao mudar o ponto de vista, a filosofia crítica de Kant pergunta quais as condições a priori para que o nosso conhecimento do mundo se possa concretizar.
O idealismo transcendental descreve este método de procurar as condições da possibilidade do nosso conhecimento do mundo. Mas esse idealismo transcendental de Kant deverá ser distinguido de sistemas idealistas, como os de
Berkeley. Enquanto Kant acha que os fenómenos dependem das condições da sensibilidade, espaço e tempo, esta tese não é equivalente à dependência-mental no sentido do idealismo de Berkeley.
Para Berkeley, uma coisa é um objecto apenas se puder ser percepcionada. Para Kant, a percepção não é o critério da existência dos objectos. Antes, as condições de sensibilidade - espaço e tempo - oferecem as "condições epistémicas", para usar a frase de
Henry Allison, requeridas para que conheçamos objectos no mundo dos fenómenos. Kant tinha querido discutir os sistemas metafísicos mas descobriu "o escândalo da filosofia": não se pode definir os termos correctos para um sistema metafísico até que se defina o campo, e não se pode definir o campo até que se tenha definido o limite do campo da física - física, no sentido de discussão do mundo perceptível.
Kant afirma, em síntese, que não somos capazes de conhecer inteiramente os objetivos reais e que o nosso conhecimento sobre os objetos reais é apenas fruto do que somos capazes de pensar sobre eles.

Filosofia Moral

Immanuel Kant
Kant desenvolve a sua filosofia moral em três obras: Fundamentação da metafísica dos costumes (1785), Crítica da razão prática (1788) e Metafísica dos costumes (1798).
Nesta área, Kant é provavelmente mais bem conhecido pela sua teoria sobre uma obrigação moral única e geral, que explica todas as outras obrigações morais que temos: o
imperativo categórico.
"Age de tal modo que a máxima da tua ação se possa tornar princípio de uma legislação universal".
O imperativo categórico, em termos gerais, é uma obrigação incondicional, ou uma obrigação que temos independentemente da nossa vontade ou desejos (em contraste com o
imperativo hipotético).
As nossas obrigações morais podem ser resultantes do imperativo categórico. O imperativo categórico pode ser formulado em três formas, que ele acreditava serem mais ou menos equivalentes (apesar de opinião contrária de muitos comentadores):
§ A primeira formulação (a fórmula da lei universal) diz: "Age somente em concordância com aquela máxima através da qual tu possas ao mesmo tempo querer que ela venha a se tornar uma lei universal".
§ A segunda fórmula (a fórmula da humanidade) diz: "Age por forma a que uses a humanidade, quer na tua pessoa como de qualquer outra, sempre ao mesmo tempo como fim, nunca meramente como meio".
§ A terceira fórmula (a fórmula da autonomia) é uma síntese das duas prévias. Diz que deveremos agir por forma a que possamos pensar de nós próprios como leis universais legislativas através das nossas máximas. Podemos pensar em nós como tais legisladores autônomos apenas se seguirmos as nossas próprias leis.

Kant e a Revolução francesa

Em 1784, no seu ensaio "Uma resposta à questão: o que é o Iluminismo", Kant visava vários grupos que tinham levado o racionalismo longe de mais: os metafísicos que pretendiam tudo compreender acerca de Deus e da imortalidade; os cientistas que presumiam nos seus resultados a mais profunda e exacta descrição da natureza; os cépticos que diziam que a crença em Deus, na liberdade, e na imortalidade, eram irracionais.
Kant mantinha-se no entanto optimista, começando por ver na
Revolução francesa uma tentativa de instaurar o domínio da razão e da liberdade. Toda a Europa do Iluminismo contemplava então fascinada os acontecimentos revolucionários em França.
A Revolução francesa vai no entanto ser um marco de viragem, também na filosofia de Kant. Observando a sua evolução e as suas realizações práticas, Kant volta a reflectir sobre a prometida razão e liberdade.
No plano religioso, em 1792, Kant, ao escrever a obra Der Sieg des guten Prinzips über das böse und die Gründung eines Reichs Gottes auf Erden (A vitória do princípio bom sobre o princípio mau e a constituição de um reino de Deus sobre a terra), afirma ainda cheio de optimismo: “A passagem gradual da fé eclesiástica ao domínio exclusivo da pura fé religiosa constitui a aproximação do reino de Deus”.
[2]
Nessa obra, o "reino de Deus" anunciado nos Evangelhos recebia como que uma nova definição e uma nova presença: a Revolução podia apressar a passagem da fé eclesiástica à fé racional; onde chegasse a Revolução a “fé eclesiástica” seria superada e substituída pela “fé religiosa”, ou seja, pela "mera fé racional."
Em 1795, no livro « Das Ende aller Dinge » (O fim de todas as coisas), a perspectiva é já completamente diferente. Kant toma agora em consideração a possibilidade de que, a par do fim natural de todas as coisas, se verifique também um fim contrário à natureza, perverso:
“Se acontecesse um dia chegar o cristianismo a não ser mais digno de amor, então o pensamento dominante dos homens deveria tomar a forma de rejeição e de oposição contra ele; e o anticristo [...] inauguraria o seu regime, mesmo que breve, (baseado presumivelmente sobre o medo e o egoísmo). Em seguida, porém, visto que o cristianismo, embora destinado a ser a religião universal, de facto não teria sido ajudado pelo destino a sê-lo, poderia verificar-se, sob o aspecto moral, o fim (perverso) de todas as coisas."
[3]
Face à violência inaudita da Revolução francesa, e ao novo tipo de autoritarismo que se firmava nas "Luzes" da razão, Kant vai também reflectir acerca dos seus conceitos políticos [4].

Marcos na vida de Kant

1724 - Kant nasce a 22 de Abril
1740 - (Kant tem 16 anos) - Neste ano, Frederico II torna-se Rei da Prússia. Foi um rei que trouxe sinais de tolerância à Prússia, que era uma nação célebre pela disciplina militar. Trouxe iluministas (Voltaire, o mais famoso) para a sua corte e continuou a política de encorajamento à imigração que o pai tinha seguido.
1746 - (Kant tem 22 anos) - Falecimento do pai de Kant. Kant deixou de ter sustento. Teria de encontrar trabalho como professor particular.
1748 - 1754 (entre os 24 e os 30 anos) - Kant dá aulas a crianças em pequenas vilas das redondezas.
1755 - (Kant tem 31 anos) Publicação do Livro "História natural genérica e teoria dos céus". Kant consegue o título de Mestre e o direito a dar aulas na Universidade Alberto. Daria aulas como docente privado. Não pago pela Universidade mas pelos próprios alunos. Nesse ano, Kant foi influenciado pelo desastre que foi o Terramoto de 1755, em Lisboa/Portugal, em parte pelo resultado de tentar entender a enormidade do sismo e suas conseqüências, publicou três textos distintos sobre o assunto.
1762 - (Kant tem 38 anos) Kant lê as recentes publicações de Rousseau, "Emile" (uma obra filosófica sobre a educação do indivíduo) e o ensaio "Contrato social"
1770 - (Kant tem 46 anos) Kant torna-se professor de Lógica e Metafísica na Universidade, após 14 anos como docente (pago pelos alunos). Kant lê por volta desta altura a obra de David Hume, que o terá despertado do seu "sono dogmático", como ele próprio disse.
1773 - (Kant tem 49 anos) Ironicamente, Frederico II, um protestante, concede refúgio à Ordem dos Jesuítas, banidos pelo Papa.
1774 - (Kant tem 50 anos) Auge do movimento romântico chamado "Sturm-und-Drang". Herder publica "Também uma filosofia da História para educação da Humanidade"
1781 - (Kant tem 57 anos) Kant publica em Maio "Crítica da razão pura". A reacção é pouco encorajadora. Moses Mendelssohn e Johann Georg Hamann pronunciam-se com indecisão.
1783 - (Kant tem 59 anos) Kant escreve um artigo intitulado "O que é o Iluminismo?" para a revista "Berlinischen Monatsschrift", como resposta a uma discussão na mesma. Um anónimo tinha escrito que a cerimónia do casamento já não se conformava ao espírito dos tempos do iluminismo. Um pastor perguntou na resposta, que era então o iluminismo. Kant respondeu com o seu artigo.
1788 - (Kant tem 64 anos) Publicação de "Crítica da razão prática". Morte do amigo Johann Georg Hamann.
1789 - (Kant tem 65 anos) Início da Revolução Francesa. Kant pronuncia-se inicialmente de forma favorável à Revolução, e sobretudo à secularização resultante, após o qual o Rei da Prússia Friedrich Wilhelm II proíbe Kant de se pronunciar sobre quaisquer temas religiosos.
1795 - (Kant tem 71 anos) Publicação do tratado "Para a paz eterna", na qual surge a perspectiva de um cidadão do mundo esclarecido.
1804 - Com 80 anos de idade, Kant faleceu em Königsberg, após prolongada doença que apresentava sintomas semelhantes à Doença de Alzheimer. Já não reconhecia sequer os seus amigos íntimos.

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